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Você nunca termina suas tarefas? O problema pode não ser gestão de tempo
Para combater a procrastinação, não basta gerenciar melhor o tempo — é preciso descobrir o que te leva a adiar tarefas, decisões e projetos
Por Paula Lima, da VOCÊ S/A
Todo mundo já deixou uma tarefa chata ou complexa para o dia seguinte — e não há nada de errado nisso. Muitas vezes até precisamos de um tempo extra para tomar uma decisão importante, refletir sobre um ponto de vista ou avaliar um projeto da empresa.
A procrastinação só vira de fato um problema quando acontece com frequência e impacta negativamente a saúde física e mental.
“É o atraso de um ato voluntário, que ocorre apesar de sabermos que ele vai nos prejudicar”, define Timothy A. Pychyl, professor de psicologia na Carleton University, no Canadá, em seu livro Solving the Procrastination Puzzle(“Solucionando o quebra-cabeça da procrastinação”, em tradução livre, sem edição no Brasil).
De acordo com Timothy, que estuda o assunto há mais de 20 anos, o hábito de “empurrar com a barriga” não está ligado à lassidão ou à má administração da agenda, como a maioria de nós acredita.
“A procrastinação constante é uma inabilidade para gerenciar emoções e impulsos”, afirma. Por isso, segundo ele, é fundamental descobrir quais gatilhos psicológicos dão origem a seu “depois eu faço” antes de combater esse inimigo da produtividade.
Ansiedade, depressão e estresse
Pesquisas indicam que cerca de 20% dos adultos são procrastinadores crônicos, ou seja, vivem postergando o início ou o término de uma atividade, mesmo sabendo que esse comportamento provoca algum desconforto (estresse, arrependimento, frustração, ansiedade, culpa) e geralmente causa danos aos estudos, à carreira e aos relacionamentos.
Ora, se a procrastinação prejudica nosso bem-estar, por que promovemos essa autossabotagem? “Ao protelar algo que nos parece desagradável, usufruímos uma súbita sensação de prazer”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Só que esse alívio é temporário, pois em algum momento teremos de resolver as pendências.
Como é uma necessidade humana buscar a satisfação e fugir do sofrimento, quem cultiva o hábito de “transferir para outro dia” entra num círculo vicioso, do qual é difícil se libertar.
Portanto, a procrastinação constante não está ligada à má gestão do tempo — ela nada mais é do que uma estratégia do cérebro para lidar com as emoções negativas.
“Sendo assim, é preciso aceitar o problema e entender o que está por trás dele para começar a superá-lo”, afirma Tânia Campanharo, psicóloga clínica de São Paulo.
Quando se transforma num estilo de vida, a procrastinação pode ser um sintoma de ansiedade — estado emocional que aparece ao encararmos algo que provoca medo, expectativa ou dúvida. “As pessoas ansiosas não pensam nem agem”, diz Christian.
Como geralmente estão com a cabeça voltada para o futuro, elas têm dificuldade de realizar algumas atividades e acabam jogando-as para frente. A ansiedade também é um dos fatores que desencadeiam a depressão, outra mola propulsora do adiamento ou do atraso frequente.
Quem apresenta essa condição sofre com pensamentos negativos, sensação de inutilidade e sentimento de culpa. Qualquer tarefa se torna incômoda e complicada.
“O depressivo não tem vontade nem energia para agir”, diz Tânia. Vale dizer que a procrastinação e a depressão se retroalimentam — e nem sempre é fácil apontar qual delas surgiu primeiro.
Outro elemento é o estresse, que também está relacionado a quadros de depressão e ansiedade. Nesse estado de ânimo, a pessoa vive nervosa e frustrada, se distrai com facilidade e, como se cobra demasiadamente, às vezes tem bloqueios mentais.
Ela costuma deixar de lado uma tarefa relevante, priorizando as secundárias como forma de alívio. Aliás, essa é uma característica do procrastinador de carteirinha: avaliar a realização de uma atividade pela satisfação que ela proporciona, e não pelo nível de importância que ela tem para si mesmo ou para os outros.
“A procrastinação também pode estar associada a transtornos de personalidade e ao déficit de atenção”, diz Rita Martins, psicanalista e professora na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.